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Comparar sentimentos pode não ser útil

  • Foto do escritor: José Pereira
    José Pereira
  • 19 de jun. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 19 de abr. de 2023


Quando lidamos com algo difícil na vida, não é incomum alguém dizer “poderia ser pior”. E podemos pensar: "Bem, pelo menos eu não estou tão mal quanto essa ou aquela pessoa". Comparar sua própria dor e outras emoções com as dos outros é comum, mas isso não significa que seja sempre útil .


As comparações são muitas vezes naturais e podem, em alguns casos, até ser úteis. Elas podem servir como uma forma de avaliar nosso progresso ou determinar o que pode ser adequado em um determinado contexto vivido.

Em outros casos, as comparações podem sufocar o crescimento, e impedir o acesso adequado aos próprios sentimentos e emoções. Tal situação pode, inclusive, contribuir para um processo de dificuldade de empatia com outras pessoas.

Algumas situações em que comparar sentimentos pode ser prejudicial são desenvolvidas abaixo: onde encontra muito do que precisa saber sobre o assunto.


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Índice


As pessoas experienciam as coisas de forma diferente


Cada pessoa vai adquirindo ao longo da vida diferentes recursos e experiências que contribuem para a forma como experimentam diferentes tipos de emoções. Assim nem todas as pessoas vivem certas emoções da mesma forma, tal como a alegria ou a dor. Não existe uma hierarquia de emoções que determine que os sentimentos de uma pessoa são melhores ou piores, mais fortes ou mais fracos do que os de outra.


Por exemplo, se você está num processo de uma perda emocionalmente dolorosa, pode comparar o que está sentindo com uma outra pessoa a qual você considera ser uma situação parecida mas, pode ser uma situação subjetivamente distinta.


Comparar sua dor com a de outra pessoa que parece estar sofrendo mais só serve para minimizar o que você está sentindo.




A comparação pode minimizar uma situação que requer atenção


Normalmente, o propósito inconsciente de comparar suas emoções geralmente é minimizar o que você está sentindo ou o que os outros estão sentindo. Alguns exemplos:


  • Você pode pensar que não tem o direito de ficar chateado com alguma coisa porque outra pessoa está passando por algo pior.

  • Você pode sentir que não tem o direito de se sentir sozinho porque tem mais amigos e familiares do que outra pessoa.

Mas as experiências de outra pessoa não anulam as suas. Nesses casos, comparar sentimentos é uma forma de minimizar suas próprias experiências.

Isso é algo que você pode fazer para evitar sentir uma emoção que você considera negativa. Em vez de enfrentá-la, é mais fácil descartá-la como sendo "não tão ruim quanto poderia ser".


É uma forma de fuga, na qual as pessoas estão pouco conscientes de que atuam para esconder ou rejeitar quaisquer sentimentos negativos para se concentrar em uma falsa sensação de otimismo ou positividade.



Pode impedir de lidar com seus próprios sentimentos


Mesmo que a situação de outra pessoa seja objetivamente "pior" que a sua, isso não significa que você não esteja experienciando emoções reais e válidas. Você pode sentir-se chateada(o) quando alguém a(o) magoa ou desapontada(o) quando algo não funciona da forma que queria.


Sim, outras pessoas também têm suas próprias dores e deceções para enfrentar, mas essas experiências não diminuem ou anulam as suas.

Os sentimentos "negativos" (intensos) podem aumentar o stress quando não são tratados adequadamente [1]. Mas até mesmo as emoções mais difíceis podem ser importantes fontes de informação que auxiliem no processo. Elas podem dizer que algo precisa mudar e ajudar na motivação para fazer mudanças positivas em sua vida.



Todas as pessoas merecem ter acompanhamento adequado


As comparações muitas vezes levam as pessoas a pensar que podem lidar com os problemas por conta própria. Em vez de buscar ajuda e apoio, as pessoas geralmente sentem que seus problemas não são dignos o suficiente de merecer atenção.


Uma pessoa que está com sintomas de depressão, por exemplo, pode não procurar ajuda porque acha que não tem “razão” para se sentir deprimida, principalmente quando compara sua vida e experiências com outras pessoas que parecem estar pior. Isso significa que não procurarão a ajuda de que precisam, seja terapia, medicação ou apoio.


Nesses casos, as comparações podem levar a evitar seus problemas em vez de encontrar maneiras de resolvê-los. Mesmo que você sinta que seus problemas "não são tão maus", você ainda merece apoio e ajuda.

Como lidar com a situação


Da próxima vez que sentir que deu início ao processo de comparar seus sentimentos com os de outra pessoa, dê um passo para trás. Será útil? Ou está usando isso como uma maneira de descartar suas emoções? Em vez de fazer comparações:


  • Permita-se observar suas emoções sem julgamento.

  • Dê a si mesma(o) permissão para sentir o que está sentindo e lembre-se de que suas emoções são válidas.

  • Apoie-se nos outros, mas tente não minimizar suas lutas ou comparar seus problemas com os deles.

  • Evite julgar as emoções de outras pessoas. Em vez disso, concentre-se em valorizar o fato de que eles estão dispostos a compartilhar o que estão sentindo com você.

  • Ouça o que as pessoas dizem. Reconheça o que eles estão sentindo.


Lembre-se que quando alguém está em uma situação vulnerável, não é hora de fazer julgamentos ou comparações. E isso se aplica às suas próprias emoções também.


Lidar com certas emoções, mesmo quando são difíceis, é o que permite que as pessoas aprendam, cresçam e se curem de suas experiências.


Às vezes, partilhar suas emoções pode ajudar. Estudos e investigação nessa área também sugerem que apenas dar um nome ou identificar as emoções não é suficiente, falar sobre o que se está sentindo pode ajudar a lidar com a intensidade dessas emoções.[2]

Quando a comparação pode ser útil



Algum grau de comparação é inevitável. A maioria das pessoas estão atentas em perceber o que outras pessoas estão experimentando e então avaliam como isso se compara à sua própria situação. E, em alguns casos, pode realmente ter um efeito positivo, incluindo:

  • As comparações podem ajudar a sentir gratidão por sua própria vida.

  • Pode ajudar a considerar as opções e pensar sobre o que quer fazer com a situação.

  • Pode levar ao aprendizado observacional, onde ganha conhecimento sem realmente ter que passar por uma determinada experiência.

  • Pode ajudar a ver o que precisa fazer para alcançar o que deseja na vida.

  • Pode contribuir com o sentimento de maior compaixão, o que pode levar a se voluntariar para ajudar os outros.


É importante lembrar, no entanto, que minimizar sua dor não faz parte da gratidão. Você pode ser grato pelas coisas boas em sua vida e ainda se sentir desapontado, triste ou chateado.




Uma última consideração


Da próxima vez que se der conta de pensar “poderia ser pior”, pense no que esses tipos de pensamentos estão realmente realizando. Se for uma maneira de minimizar ou negar seus sentimentos, concentre-se em suas emoções sem julgar ou se envergonhar por sentir essas coisas.


E antes de dizer a outra pessoa que “pelo menos ela não está tão mal quanto outra pessoa”, faça uma pausa e lembre-se de que tais declarações raramente são úteis. Em vez disso, concentre-se em ser um ouvinte solidário.






Referências:

[1] Fischer AH. Comment: the emotional basis of toxic affect. Emot Rev. 2018;10(1):57-58. doi:10.1177/1754073917719327

[2] Lieberman MD, Eisenberger NI, Crockett MJ, Tom SM, Pfeifer JH, Way BM. Putting feelings into words: affect labeling disrupts amygdala activity in response to affective stimuli. Psychol Sci. 2007;18(5):421-8. doi: 10.1111/j.1467-9280.2007.01916.x).

 
 
 

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